"Estas unidades funcionais, é necessário reparti-las em um pequeno número de classes formais. Caso se queira determinar estas classes sem recorrer à substância do conteúdo (substância psicológica, por exemplo), é necessário novamente considerar os diferentes níveis da significação: certas unidades têm como correlatas unidades do mesmo nível; ao contrário, para saturar as outras, é necessário passar a um outro nível. Daí, desde o início, duas grandes classes de funções, umas distribucionais, outras integrativas. As primeiras correspondem às funções de Propp, retomadas notadamente por Bremond, mas que consideramos aqui de maneira infinitamente mais detalhada que estes autores; é apra elas que se reservará o nome de 'funções' (embora as outras unidades sejam, elas também, funcionais); o modelo é clássico a partir da análise de Tomachevski: a compra de um revólver tem como correlato o momento em que será usado (e se não é usado, a notação transforma-se em signo de veleidade, etc), tirar o telefone do gancho tem como correlato o momento em que aí será recolocado; a intrusão do papagaio na casa de Félicité tem como correlato o episódio do empalhamento, da decoração, etc. A segunda grande classe de unidades, de natureza integrativa, compreende todos os 'índices' (no sentido muito geral da palavra); a unidade remete então, não a um ato complementar e consequente, mas a um conceito mais ou menos difuso, necessário entretanto ao sentido da história: índices caracteriais concernentes aos personagens, informações relativas à sua identidade, notações das 'atmosferas', etc.; a relação da unidade e de seu correlato não é mais então distribucional (frequentemente muitos índices remetem ao mesmo significado e sua ordem de aparição no discurso não é necessariamente pertinente), mas integrativa; para compreender 'para que serve' uma notação indicial, é necessário passar para um nível superior (ações dos personagens ou narração), pois é somente aí que se esclarece o índice; a potência administrativa que está por trás de Bond, indexada pelo número de aparelhos telefônicos, não tem nenhuma incidência sobre a sequência das ações onde se engaja (Bond está do lado da ordem); os índices, pela natureza de certa forma vertical de suas relações, contrariamente às 'funções' propriamente ditas, ele remetem a um significado não a uma 'operação'; a sanção dos índices é 'mais alta', por vezes mesmo virtual, fora do sintagma explícito (o 'caráter' de um personagem pode não ser jamais nomeado, mas entretanto ininterruptamente indexado), é uma sanção paradigmática; ao contrário, a sanção das 'Funções' é sempre 'mais longe', é uma sanção sintagmática. Funções e Índices recobrem portanto uma outra distinção clássica: as Funções implicam relata metonímicos, os Índices, relata metafóricos; uns correspondem a uma funcionalidade do fazer, as outras a uma funcionalidade do ser" R. Barthes, Análise estrutural da narrativa, p.30-32.
sábado, 4 de dezembro de 2010
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