quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Anotações de leitura 7: Marshall Sahlins



"Seguindo as observações de Ricoeur sobre a linguagem, percebemos imediatamente que a cultura-tal-como-vivida  tem um tipo de existência fenomênica diferente da cultura-tal-como-constituída. O Signo desfruta de uma existência atual, in praesentia, apenas na medida em que se inscreve na ação humana. Como esquema de relações entre categorias simbólicas, o 'sistema' é meramente virtual. Existe in absentia, do modo como a língua inglesa, sendo distinta dos enunciados efetivos das pessoas, existe perfeitamente, ou como um todo, tão-somente na comunidade em geral. Podemos dizer que, tal como vivido, o fato simbólico é um  'indício' fenomênico cujo 'tipo'  é seu modo de existência na cultura-tal-como-constituída. Além disso, na cultura-tal-como-constituída, o signo tem um sentido abstrato, significando meramente, em virtude de todas as relações possíveis com outros signos, todos os seus usos possíveis; sendo assim, ele é 'independente de estímulo', não estando preso a nenhum referente específico do mundo, mas as pessoas vivem no mundo além de viverem por signos, ou melhor, vivem no mundo por meio de signos e, na ação, relacionam o sentido conceitual aos objetos de sua existência. Na experiência humana ingênua e evidentemente universal, os signos são nomes de coisas 'lá fora'. O que estou tentando dizer, de um modo muito rebuscado, foi mais bem formulado por um índio que narrava suas experiências com o governo canadense em Otawa.: "'o índio comum nunca consegue ver o 'o governo'. É mandado de uma repartição para outra, e apresentado a essa ou àquela pessoa, que às vezes diz ser o 'chefe'; mas nunca vê o governo real, que se mantém escondido'" M. Sahlins, Cultura na prática, p.311.

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