"Numa frase curta, Victor Hugo associa as imagens e os seres da função de habitar. Para Quasímodo, diz ele, a catedral fora sucessivamente o 'ovo, o ninho, a casa, a pátria, o universo'. 'Quase se poderia dizer que ele havia tomado a forma dela, como o caracol toma a forma da concha. Era sua morada, sua toca, seu invólucro... Estava, por assim dizer, colado a ela como a tartaruga ao casco. A rugosa catedral era a sua carapaça'. Todas essas imagens eram necessárias para mostrar como um ser desvalido toma a forma atormentada dos esconderijos nos cantos do complexo edifício. Assim o poeta, pela multiplicidade das imagens, nos torna sensíveis aos poderes dos diversos refúgios. Mas imediatamente ele acrescenta às fartas imagens um signo de moderação: 'É inútil', continua Hugo, 'advertir o leitor para não tomar ao pé da letra as figuras que somos obrigados a empregar aqui para exprimir esse amoldamento singular, simétrico, imediato, quase consubstancial de um homem a um edifício'" G. Bachelard, A Poética do espaço, p. 103-104.
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