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Maçã
Por um lado te vejo como um seio murcho
Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão [placentário
És vermelha como o amor divino
Dentro de ti em pequenas pevides
Palpita a vida prodigiosa
Infinitamente
E quedas tão simples
Ao lado de um talher
Num quarto pobre de hotel.
Manuel Bandeira, 25/2/1938.
Primeiro peço desculpas por quebrar o "cotovelo" da primeira estrofe (não consegui mantê-lo íntegro). Depois, gostaria de registrar aqui a sensibilidade e o arsenal teórico com que David Arrigucci Jr analisa esse poema de Bandeira em Humildade, Paixão e Morte: a poesia de Manuel Bandeira, Companhia das Letras, 1990. Da descrição da "natureza morta" da poesia como pintura que fala para olhos mudos aos arquétipos da vida e da morte e do amor divino. A simplicidade que se concebe como conhecedora do fato de que esconde o complexo da vida, infinitamente. "O infinitamente grande é visto na perspectiva do infinitamente pequeno: o maior dos mistérios, o da vida, se concentra numa parte ínfima da fruta. Nas pequenas pevides se oculta o sublime". "Assim, na maçã se encerra uma lição de vida e de poesia, pois imitando-a, se reconhece um ideal de estilo na simplicidade natural. E por ela, por fim se entende que a poesia, como a natureza, ama ocultar-se".
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